21 de Setembro de 2015 | fonte: http://www.focoregional.com.br/page/impnoticiasdtl.asp?t=FALTA+INTERESSE&idnoticia=25313
A omissão do poder público desconsidera até a questão da saúde pública quando se trata dos direitos dos animais. Em síntese, esta é a principal crítica dos defensores de animais que tentam, através de seminários como o que foi realizado pela ONG Vira-Lata, na sexta-feira (18), em Volta redonda, conscientizar a população a respeito do tema. O seminário deste ano, que teve o apoio do FOCO REGIONAL, foi o terceiro realizado pela instituição, fundada há 10 anos.
Um bom exemplo deste descaso, que ocorre em praticamente todo o estado, vem de Paraty. Na cidade litorânea, a servidora Lúcia Morais realiza, por conta própria, um projeto de castração de cães e gatos. Para isso, em meses intercalados, ela traz uma equipe de Ubatuba, do estado vizinho de São Paulo para castrar cães e gatos. São castrados, em média, 200 animais, evitando a reprodução desenfreada.
- Cada fêmea de cadela gera 83 mil descendentes (não confundir com filhotes), enquanto cada felina gera 180 mil – diz a servidora, que é jornalista e que este ano conseguiu trazer um representante da prefeitura de Paraty ao seminário.
Também por conta própria ela mantém um abrigo no terreno de uma amiga, embora seja contra. “Até porque nunca vi um cachorro feliz em abrigo. Vira depósito, mas a gente não pode deixar abandonado”, acrescentou Lúcia, que cuida de cerca de 40 cães.
O seminário deste ano durou o dia inteiro e trouxe palestrantes como o advogado Wagner Leão. Ele derrubou na Justiça uma portaria do Conselho Federal de Medicina Veterinária que proibia profissionais de tratarem cães com leishmaniose. “O Brasil é o único país do mundo que abate o animal doente, sendo que quem transmite leishmaniose não é o cão, é o mosquito”, ressaltou a fotógrafa Liz Guimarães, do Vira-Lata.
O seminário não teve nenhum representante da prefeitura de Volta Redonda, criticada pelos defensores por não dar importância ao assunto. “A cidade é rica em legislação em favor dos animais, mas ela não é cumprida. Por isso a gente espera conseguir capacitar cada vez mais pessoas para ajudar neste trabalho de defesa ”, afirmou Mariana Ribeiro, presidente da ONG, citando como exemplo a lei que determina multa em casos de maus tratos: “A gente informa, mas a prefeitura não multa. Não há políticas públicas”.
A organização, que promove o seminário, recebe entre 10 e 15 denúncias de maus tratos por semana. E, neste caso, a orientação é que as pessoas a procurarem a polícia. No entanto, são poucas as que vão à delegacia, geralmente por temerem indisposições com vizinhos. A presidente do Vira-Lata festeja, no entanto, o fato de que, na polícia, os delegados têm sido cada vez mais sensíveis aos direitos dos animais.
Um dos que participaram do evento, realizado no Gacemss, foi o diretor da Secretaria de Meio Ambiente de Niterói, Marcelo Pereira. A cidade é considerada exemplar em ações contra maus tratos e abandono de animais no estado do Rio. Lá, recentemente, foi aprovada uma lei para tipificar e autuar responsáveis por maus tratos. O valor arrecadado com as multas será destinado a projetos de proteção animal.
Coincidentemente, na semana passada entrou na pauta da Câmara Municipal um projeto de lei do vereador Walmir Vitor, propondo a criação de um crematório e cemitério municipal para sepultamento de animais domésticos. O projeto não empolgou os participantes do seminário. Acima de tudo, porque eles consideram que os bichos precisam de total proteção quando estão vivos e também por considerarem o projeto inconstitucional – mesma opinião manifestada por outros vereadores na discussão do assunto –, pois gera custo para o município sem apontar de onde sairiam os recursos.